Levantamento da PróGenéricos revela que 34% das prescrições são de genéricos; remédios similares e de referência somaram 33% das receitas cada um
Foto: Germano Lüders/VEJA
Levantamento realizado pela PróGenéricos (Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos) revela que, pela primeira vez, os genéricos são os remédios mais receitados por médicos brasileiros.
No período de doze meses encerrado em fevereiro deste ano, 34% das 115 milhões de receitas emitidas foram de drogas genéricas. Fármacos similares e de referência somaram 33% das prescrições cada um. O estudo, feito por amostragem, levou em consideração dados do Close-Up International, instituto que faz auditoria do receituário apresentado em farmácias de todo Brasil.
No total, foram emitidas 38.763.225 de receitas que apontavam os genéricos como primeira indicação. Os similares marcaram 38.210.558 e os de referência, 38.094.583.
A diferença é pequena, mas histórica. Desde que os primeiros registros de fármacos genéricos foram concedidos, em fevereiro de 2000, esse tipo de medicamento sempre esteve atrás das marcas de referência e de similares no receituário. O que ocorria na maioria dos casos era o médico receitar o remédio de referência, e cabia ao paciente solicitar o genérico na farmácia, caso houvesse a opção.
De acordo com a presidente da PróGenéricos, Telma Salles, o crescimento do número de receitas que trazem os genéricos como primeira indicação se deve a uma maior aceitação dos profissionais da saúde. “A resistência do médico foi diminuindo por conta da qualidade, eficácia e segurança (dos genéricos), que vem se comprovando ao longo do tempo”, diz. “A confiança é que faz com que o médico prescreva. É um aval importante.”
Na opinião de Telma, a demora de quase 20 anos para que os números alcançassem esse resultado foi justamente por causa da confiança que os médicos tinham em algumas marcas. No entanto, como os laboratórios que produzem remédios de referência também têm hoje linhas de genéricos, a aceitação cresceu.
“Não é uma forma diferente de produzir remédios, mas de comercializar, com o valor mais baixo, sem o ônus do marketing e do investimento, que já foi pago ao longo dos anos, o que possibilitou a perda de patente. O genérico é 60% mais barato, em média”, explica.
Outro fator para esse crescimento expressivo foi a crise econômica, que abateu os orçamentos familiares. Em 2014, primeiro ano da recessão, os genéricos estavam em 28% das receitas, atrás dos medicamentos de referência (40%) e similares (32%). “O paciente tem um papel decisivo na hora da aquisição e também pode pedir para o médico uma alternativa genérica”, diz Telma. “O papel econômico é importante.”
O médico Antonio Pereira Filho, conselheiro do Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo), concorda que o fator financeiro foi preponderante na decisão dos médicos de prescrever remédios genéricos. “Historicamente, o médico tem uma ligação maior com grandes laboratórios, que são financiadores de pesquisas e de congressos internacionais e nacionais. Mas o dado mostra um reconhecimento de que, apesar disso, a classe médica está prescrevendo o mais barato. O interesse dos pacientes está falando mais alto.”
Além disso, ele afirma que os conselhos de medicina sempre se posicionaram favoravelmente em relação aos genéricos, principalmente pela fiscalização periódica do Ministério da Saúde sobre esse tipo de medicamento, que comprovam a confiabilidade.
Na opinião de Guilherme Alfano, gerente geral da Close-Up International no Brasil, que levantou os números, são duas as razões para o crescimento das receitas com genéricos: a ampliação da rede do Farmácia Popular e a formação de novos profissionais da saúde. “Os remédios do programa do governo são, em sua maioria, genéricos. Isso faz com que muitos médicos prescrevam a molécula para facilitar o acesso dos pacientes a esses medicamentos”, explica.
“E há uma massa de novos médicos. O que eles aprendem nos livros são as moléculas necessárias para os tratamentos. Só depois que eles se formam é que começam a ter acesso a medicamentos mais inovadores, que ainda não têm a opção genérica, pois a patente ainda está ativa”, diz. Segundo Alfano, cerca de 90% dos recém-formados prescrevem genéricos.
Fonte: Veja.com